sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Falando sozinho...



Entrei no ônibus hoje a noite, pra variar não tinha um lugar vago pra sentar e em pé a situação já estava complicando. Usei meu lado contorcionista de ser e consegui buscar meus fones no fundo da bolsa, conectá-los ao celular, colocá-los nos seus respectivos ouvidos e não cair! Ufa! Por pouco!

De repente me pego cantarolando o refrão de uma música que nem sei como foi para na playlist. Olho pro lado com cara de absurdo, como quem diz: "Por que raios essa música está tocando?! O senhor ao meu lado me responde com um olhar de interrogação e só então eu percebo que ele não tem como captar meu olhar. Ele não está em sintonia comigo, não está ouvindo o mesmo que eu, eu estava no meu mundinho digital. Feliz, contente e viajando nas minhas músicas. Sem sequer saber porque a criança do banco da frente chorava.

Consegui um canto pra encostar, ali, atrás da porta, naquele cercadinho de acrílico ao lado do banco que fecha sozinho. Então atingi o ápice da minha insanidade: Ainda usando os fones passei a resmungar sozinha sobre o novo mundo. Esse novo mundo aí, onde as pessoas passam umas 2 horas inteiras no ônibus sentadas uma ao lado das outras sem sequer falar bom dia, comentar o trânsito ou o clima. Ficamos todos com nossos fonezinhos, PSP'zinhos, GameBoyzinhos, Joguinhos de celularzinhos e a boa educaçãozinha está indo pro espaço. Quem sabe explorar o solo Marte! A cordialidade foi tentar definir se Plutão é um planeta ou não. E a boa vizinhança foi brincar de passa anel em Saturno.

Ninguém nunca foi obrigado a fazer amizade dentro do ônibus, do metrô ou do trem. Mas há poucos anos atrás existia um companheirismo entre as pessoas do mesmo vagão, uma cumplicidade entre as pessoas do mesmo horário do ônibus. Você entrava e sabia qual era o primeiro banco a esvaziar. Todos se conheciam pelo menos de vista. Hoje nem isso. Ninguém olha para os lados. Ninguém sabe o que se passa. Estão todos voltando para os casulos ao invés de sair deles. Pelo menos nos destinos temos gente conhecida para parar nossos devaneios. Ou compartilhar deles.

Sei que no meio desses pensamentos bagunçados quase perdi o ponto de casa. Há uns dois anos atrás o cobrador teria me lembrado...

6 comentários:

  1. Total realista! é a descrição perfeita de quando andamos de onibus!

    o ultimo paragrafo me faz lembrar quando eu ia de onibus logo cedo para a escola e voltava no mesmo onibus, pegava a ultima viagem com o mesmo cobrador e motorista! sempre ia dormindo e sempre me acordavam...rs!

    Nos ultimos tempos perdi o ponto..!


    Muito bom..!
    Amo!

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  2. Muito bom!
    Voltam as palminhas...
    Clap, clap, clap!
    =D
    HAHA
    Adoro me perder nos meus pensamentos...

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  3. Tentei me manter consciente no meio disso tudo, eu não sou alienado mas eu vivo nesse absurdo ♪

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  4. Carol, descordo em partes!

    Conheço de vista bastante gente que pega o mesmo ônibus que eu quase toda manhã! Mas a verdade é que só conheço aqueles que descem rápido pra que eu fique bem pertinho e pegue o lugar deles, sente e possa dormir ao lado de alguém que provavelmente demora pra descer e que eu não conheço o rosto!

    É exatamente assim!kkkk

    Bjs

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  5. Este é o retrato do mundo de hoje. Onde as pessoas na confiam mais no próximo. Vivemos na era da desconfiaça e das amizades virtuais.

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